Sou filha do desejo dos contrários
E de tal dicotomia me ressinto:
Quisera ser aceita nos ovários
Como água numa taça de absinto
Ou mesmo como filha pródiga
No seio maternal e seu calor,
E não essa acolhida espasmódica,
Cheia de repulsa e de rancor.
Vê, Açoriana, o que me fazes,
Cerceando-me pelos quatro lados
Dos apelos e dos pelos dos rapazes.
Assim, já amorosa e tão ardente
Me restavam as gurias, simplesmente,
Que sem elas meus dias são contados...
09/04/1998
Nota
Alma se vê como a filha do desejo de dois seres muito diversos e até antípodas: o Vati (nosso pai) e a" Açoriana" (nossa mãe). Quando ela diz que queria ser aceita nos ovários de sua mãe ela reflete a grande carência e mágoa por sua mãe convencional e repressora não aceitá-la com ela era: artista, hiper-sensível e aparentemente excêntrica. Como nossa mãe fez tudo o que pôde para cercá-la ("cerceá-la") para que, por seu fogo vital e sexual, não se entregasse aos rapazes, a começar nosso irmão Rodo (em vão) ou até jovens peões da estância, Alma tentou driblar essa vigilância apaixonando-se e mantendo relações secretas, amorosas e eróticas com gurias, amigas e primas. No último verso, ela afirma que sem elas ela morreria...
(Lucia Welt)
Há um mês
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