Já estive com Noé naquela Arca,
E fui cabeleireira de Sansão
Depois de ser expulsa com Adão
Por furibundo anjo do Tetrarca.
Dei sopa de lentilhas ao irmão,
Por pura cobiça o fiz de bobo,
E causei no cego pai uma ilusão
Com pele de cordeiro feito lobo.
Depois, muito depois de consumado
Quis beijar a mão do falecido:
“Não me toques!” e saiu meio de lado.
E agora estou no Pampa com os sapos
Depois do coração ter em farrapos
Por amar um carcamano enlouquecido...
(sem data)
Nota
Alma, neste divertido soneto narra sua passagem como reencarnações por diversos episódios do Gênesis da Biblia, como a expulsão do Paraiso; Dalila cortando a cabeleira de Sansão; a sopa de lentilhas de Jacó (o maior embusteiro) da Biblia, trocada pelo direito de progenitura com o pobre do Esaú enganado pelo menos duas vezes; depois o episódio de Esaú , peludo e Jacó, liso, em que este engana o pai Isaac, cego, vestindo uma pele de cabrito, para ser tocado nas costas pelo pai e assim confundido com o Esaú.
No primeiro terceto do soneto, Alma , como Maria Madalena, faz alusão ao episódio do novo Testamento conhecido como o "Noli Me Tangere", quando Cristo Resssucitado, encontrado pela Madalena, que se ajoelha perante ele e tenta tocá-lo , por devoção e carinho (talvez para comprovar), diz a ela: "Não me toques" porque ainda não subi ao meu Pai" ( ele tinha descido aos Infernos, subido ao terceiro dia , e ainda estava "impuro" (!!!).
E finalmente no último terceto Alma está afinal no Pampa, atual, desencantado (só sapos, nada de príncipes), e lembra de sua encarnação como Anita na Guerra dos Farrapos, o coração em "farrapos" por amor ao aventureiro louco pela liberdade (" enlouquecido" ) o italiano ("carcamano") Giuseppe Garibaldi.
( Lucia Welt)
Há um mês
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