quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A névoa e a Alma (de Alma Welt)

Quando a névoa ainda não se alçou
E paira sobre a relva confundindo
Céu e terra como quando começou
O mundo e Deus ainda estava urdindo

A tessitura de seu reino endiabrado,
Depois cheio de tesouros e magia,
Eu sinto que pertenço a este prado
E nutro-me de sua nostalgia.

Mas logo em alegria me desnudo
Pois orvalhada já em minha roupa
Posso sentir-me parte disso tudo:

De Deus o puro caos primevo e vago
Quando tudo ainda era parte dessa sopa
Do grande caldeirão do Eterno Mago...


(sem data)

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Nota
Acabo de encontrar na montanha dos inéditos da Alma, em sua arca do sótão, este soneto encantador sobre o qual testemunhei as cirunstâncias de sua inspiração, pois acompanhei uma vez a Alma num de seus passeios matinais, bem cedinho, e a vi impulsivamente desnudar-se para sentir a névoa da alva da manhã em sua pele, no corpo todo, rodopiando de alegria em sua integração sentida nesse "caos úmido". Alma era uma criatura profundamente telúrica e nutria-se, como ela dizia, das forças da terra e do ar, como todos os seres, é verdade, mas com mais intensa consciência poética, se podemos dizer assim, do que a maioria de nós. (Lucia Welt)

La niebla y la Alma (de Alma Welt)
(versión al castellano de Lucia Welt0


Cuando la niebla aún no se ha alzado
A pararse de la hierba confundiendo
Cielo y tierra como cuando ha comenzado
El mundo y Dios se estaba urdiendo

La textura de su reino endiablado,
Después lleno de tesoros y magia,
Yo siento que hago parte de ese prado
Y me nutro de su enorme nostalgia.

Pero de pronto me pongo desnudada
Pues aunque orvallada en mi ropa
Quiero sentirme parte, o integrada,

De Dios el puro caos primero y vago
Cuando todo era parte de esa sopa
Del eterno calderón del Grande Mago.

2 comentários:

R. M. Peteffi disse...

Lu!

bom, estou aí, de volta...

andei entregando os poemas da Alma para alguams pessoas interessantes que encontrei por aí...tiveram uma ótima recepção, mesmo por parte de um poeta concreto que conheci. julguei isso bastante positivo, por serem coisas diferentes, completamente. mas não teria como ser de outra maneira, não é mesmo?
achei que vc gostaria de saber...

ah...interessantíssimas as traduções. os poemas são lindos, e ficam ainda melhores em espanhol, que é uma língua fantástica para o que fazemos. perfeito, romance e tourada...rsrs

espero que tudo ande bem por aí...!

por ora é isso...

beijos!

Lúcia Welt disse...

Corso querido!
Que bom que voltaste, e com essas ótimas notícias... Barbaridade, tchê, um poeta concreto ter apreciado a Alma! Isso é o máximo! É sinal de que ela passou num difícil teste, pois eles (os concretos) costumam ser rigorosos e freqüentemente odeiam a poesia de fundo romântico.
E tu ainda gostaste das minhas traduções para o espanhol! Estou lisongeada. É, eu senti que elas ficam bem nessa língua, que é ótima e muito sonora para a poesia. Pena que só tive essa idéia agora, e a Alma não pôde ver seus sonetos vertidos para a língua de Cervantes, Neruda, Garcia Lorca, Gabriela Mistral, Otávio Paz e tantos grandes.
A idéia de verter os sonetos da amada Alma, veio quando fui convidada, não sei por quê, a publicar num blog literário Espanhol chamado "LA VOZ DE LA PALABRA ESCRITA - Internacional". Tem poucos brasileiros ali, uns dois ou três. Quase todos são espanhóis e latino-americanos de língua espânica. Dei-me conta de como somos isolados culturalmente no continente.
Se tu e outros poetas aprovaram minhas traduções da Alma, espero que isso seja sinal de que ela tem chance de divulgar-se em âmbito internacional.
Qualquer hora vou enviar-te uma versão minha de um poema teu em espanhol, se quiseres. Podes dizer-me claramente se não o aprovares (risos).

Beijos, querido Corso, e muitíssimo obrigada por tudo, meu querido jovem mestre poeta
Lu