Manhã orvalhada
(Para a amada Alma)
Nesta manhã orvalhada
caminhei pela campina como outrora
quando tudo parecia mais autêntico e vivo
pois a Alma estava entre nós
e eu podia segurar a sua mão ao caminhar.
Ainda ouvi sua respiração arfante
não tanto pelo andadura
como pelas emoções de seu olhar
sobre detalhes da paisagem, da relva e do céu
que me passavam despercebidos.
Senti novamente seu perfume
de mulher jovem inconcebivelmente linda
que só por isso já nos comovia
tanto quanto aos peões
que ao vê-la caminhando paravam seu trabalho
e tiravam o chapéu
ao seu riso cristalino.
Ah! Doce irmã das pradarias, tu eras a alma
que agora nos falta!
Tu, o elo de ligação entre este pampa e nossas vidas
entre a paisagem e nosso alento
que todavia persiste sem teu respiro mais amplo
em teu vôo a um tempo gracioso e sobranceiro,
de branca garça pampiana
guria de cabelos flamejantes, de pele alva
de paraísos suspeitados, ah! cobiçados mesmo...
Esta foi, além de teus poemas
tua prenda maior mas tua desgraça,
pois também os maus te viram
e cobiçaram...
Mas não quero pensar senão em ti, na tua caminhada,
quando rindo de alegria te afastavas de súbito
virando-te para mim
para logo me estenderes as duas mãos para rodopiarmos na campina
por puro prazer de viver.
Ah! Como eras preciosa, meu amor, minha irmã!
Que poema posso eu te escrever
senão evocar-te tal qual eras em tua beleza
cheia de secretos encantos
que no entanto prodigalizavas?
Quanto te desnudavas em tua generosidade,
pois bem sabias que o olhar do povo,
deslumbrado te vigiava, respeitoso contudo,
como não seria com nenhuma outra prenda!
Quem, entre os mortais que te viram nua (e talvez alguns deuses)
não sonhou secretamente ter-te nos braços para sugar-te o hálito divino
e fruir de tua pele de seda de impossível brancura
sob este sol do Pampa, ou mais amiúde sob a lua
e as estrelas peregrinas do teu negrinho padroeiro?
(Ai! Na grande cidade também foste amada,
mas também violada
em tua comovente vulnerabilidade,
criatura exótica perdida no caos.)
Ah! Não poder nunca defender-te,
preservar-te do mal e dos maus,
cobrir teu corpo de ninfa com meu corpo maternal
e nunca mais deixar-te ir-se!...
Caminhei esta manhã na pradaria orvalhada
e por um segundo tu, Alma, tocas-te a minha mão,
senti teu beijo em meus lábios,
o hálito fresco da pradaria,
e soube que continuas por aqui.
E chorei consolada...
(Lucia Welt)
28/05/2008
Há 11 meses
5 comentários:
Fizeste-me chorar, querida Lúcia...
beijos ternos
nina
Lu!
O penúltimo post, Sonhos... Soneto excelente...muitíssimo expressivo.
a respeito da tua nota em Sonhos, devolvo com o woody allen...rs
"O artista cria seu próprio universo moral."
pelo menos a frase aparece num filme dele...e faz bastante sentido.
mas resolvi deixar o comment aqui...nesse poema...bah.
é muito pleno. pelo que eu tenho lido, tive um vislumbre de veracidade esquisito. é um efeito bem ambíguo.
separei uma parte...
"Ah! Doce irmã das pradarias, tu eras a alma
que agora nos falta!
Tu, o elo de ligação entre este pampa e nossas vidas
entre a paisagem e nosso alento
que todavia persiste sem teu respiro mais amplo
em teu vôo a um tempo gracioso e sobranceiro,
de branca garça pampiana
guria de cabelos flamejantes, de pele alva
de paraísos suspeitados, ah! cobiçados mesmo...
Esta foi, além de teus poemas
tua prenda maior mas tua desgraça,
pois também os maus te viram
e cobiçaram..."
(...)
beijos!
Lúcia,
Obrigada por visitar meu blog.Mais surpresa ficou eu ao saber que sua irmã Alma Welt ilustrou o quadro de Guilherme de Farias ao qual dei créditos ao postar no meu blog. O mais interessante é que o quadro ilustra um conto meu denominado MEU NOME É ALMA.Só depois de alguns dias que encontrei seu blog,curiosa coincidência?
Irei ler mais sobre Alma Welt e pode ter certeza que sempre visitarei seu blog.
Com carinho Lúcia Amorim.
A música do blog é Apocalyptica
Nothing else Matters
Carinho Lúcia Amorim
Lovely poem and good taste on the Symbolists and Pre-Raphaelites painters.
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