terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O Eterno Retorno ( II ) (de Alma Welt)

Regressaremos ao ponto de partida
Que foi há muito tempo, nas calendas,
Num tempo mais sagrado para a vida
Em que éramos nós mesmos nossas lendas.

Nos primórdios de uma aurora enevoada
Em que nós nos fundíamos aos deuses
E subíamos ao Olimpo em revoada
Depois dos ritos de nossa sacra Eleusis,

Os rituais de morte que eram vida,
Em que descíamos ao vale noturno
Para provas necessárias à subida.

E então saberemos nossa origem,
Não no berço, mas no seio de Saturno
Que é dos próprios deuses a vertigem...

(sem data)


Notas
Acabo de descobrir este soneto na Arca da Alma, mais um de vários de tema análogo. E me lembrei de que, uma vez, conversando com ela à luz das estrelas, percebi que minha divina irmã acreditava mesmo nos deuses do Olimpo grego(ela uma vez afirmou ser uma "órfica"), assim como nos do Walhalla de nossos ancestrais germânicos . Olhei-a fundo nos olhos e fiquei pasma de ver neles a expressão e o brilho de uma absoluta ingenuidade e sinceridade. Sendo tão culta, às raias da erudição, como pôde ela conservar essa pureza é que o mistério e sacralidade que todos nós atribuíamos à nossa grande Poetisa. Sim, nós mesmos, sua família, a venerávamos desde guria como uma pequena deusa... (Lucia Welt)

* Eleusis- Região e templo onde ainda antes do século VII, se realisavam os rituais dos "Mistérios de Eleusis", da doutrina "órfica", o Orfismo, religião iniciática que tinha um teor reencarnacionista. Seus adeptos realizavam um ritual secreto em que realizavam a Catábase, isto é , causavam a própria morte (não se sabe como) e desciam ao reino de Hades (no soneto da Alma, "vale noturno"), o Vale do rio Letes (rio do esquecimento, de cujas águas não bebiam, (vide o Mito de Er, na República de Platão) e depois de um rito subterrâneo de escolha de uma nova vida subiam novamente para vida, como iniciados, um plano muito superior aos homens comuns.

* Saturno- Como era chamado pelos romanos o deus Cronos, o Tempo, dos gregos (deus primordial, o primeiro de todos os deuses, e que devorava os próprio filhos, isto é, todos nós). Alma aqui usou o nome romano por uma questão de rima.

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