Transcrevo aqui estes dois sonetos do grande poeta Paulo Bomfim (82) "príncipe dos poetas paulistas", por quem nutro grande admiração e que se tornou meu amigo quando me procurou querendo conhecer a Alma, por quem, por sua vez estava tomado de admiração desde que ganhou o livro Contos da Alma, de Alma Welt, que chegou às suas mãos através de seu filho, o excelente e famoso pintor Dudu Santos. Na ocasião, o ilustre poeta paulista declarou a mim, ao telefone, que aquele era "o mais belo livro que ele tinha lido nas últimas décadas", o que me deixou imensamente emocionada, e ao mesmo tempo triste por Alma não ter podido ouvir aquilo (revelei a ele que Alma falecera havia dois meses, o que muito o chocou).(Lucia Welt)
Soneto XIII
Pastor já fui desse rebanho alado
(de Paulo Bomfim)
Pastor já fui desse rebanho alado,
Que pelos céus caminha, pensativo,
A ruminar a grama azul do prado
E a desmanchar-se em pensamento vivo.
Pastor já fui de olhar perdido e calmo,
Guardando as reses pelo campo etéreo,
Entoei sobre a campina cada salmo
De um livro que perdi sobre o mistério.
Já fui pastor fora de certo espaço,
Das loucas dimensões em que me banho,
Não sei se é no futuro em que me abraço
Ou no passado desse meu rebanho!
Pastor já fui, hoje arrebanho a mágoa
Do meu rebanho a desfazer-se em água.
Paulo Bomfim
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Pastor he sido de este rebaño alado
(de Paulo Bomfim)
(versión al castellano de Lucia Welt)
Pastor he sido de este rebaño alado
Que en los cielos camina pensativo
A rumiar la hierba azul del prado
Y a deshacerse en pensamiento vivo
De mirada perdida, y sin embargo calmo
Guardando reses en el campo etéreo,
Canté sobre las praderas cada salmo
De un libro que he perdido, del misterio.
He sido ya pastor de aquél espacio
En las locas dimensiones que me baño,
No sé si él en el futuro en que me abrazo
O en el pasado de este mi rebaño!
Pastor ahora triste me pongo a rebañar
Mi rebaño de agua a deshacerse en mar.
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Soneto I
Venho de longe, trago o pensamento
(de Paulo Bomfim)
Venho de longe, trago o pensamento
Banhado em velhos sais e maresias;
Arrasto velas rotas pelo vento
E mastros carregados de agonia.
Provenho desses mares esquecidos
Nos roteiros de há muito abandonados
E trago na retina diluídos
Os misteriosos portos não tocados.
Retenho dentro da alma, preso à quilha
Todo um mar de sargaços e de vozes,
E ainda procuro no horizonte a ilha
Onde sonham morrer os albatrozes...
Venho de longe a contornar a esmo,
O cabo das tormentas de mim mesmo.
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Vengo desde lejos y traigo el pensamiento...
(de Paulo Bomfim)
(versión al castellano de Lucia Welt)
Vengo de lejos y traigo el pensamiento
Bañado en sales marineros de poesía
Arrastro velas rotas por el viento
Y en los mástiles llenos de agonía.
Provengo de eses mares olvidados
En las rotas ha mucho abandonadas
Y traigo en las retinas ahogados
Los puertos de misterio sin llegadas
Retengo adentro el alma y en la quilla
Todo el mar de sargazos y de voces
Que oigo al mirar aquella isla
Donde sueñan morir los albatroses…
Y a contornear al acaso, como un sismo,
De las tormentas el cabo de mi mismo
Paulo Bomfim
* do livro Transfiguração
Há 6 anos
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