Altas horas, o sono interrompido
Pelas batidas do relógio pendular
De meu avô, o boche pouco lido
Que o instalou na sala de jantar
Para ser um marco ou referência
De sua passagem tão austera
Por este casarão e sua esfera:
O vinhedo, o pomar e a querência...
Então eu me levanto e saio nua
Quando estamos do verão no suadouro
Ou de camisola, menos crua,
Para ir ao mundo dos meus livros
Pousados nas estantes, logradouro
Dos mortos que permanecem vivos.
17/12/2006
Nota:
Não paro de descobrir novas preciosidades da Alma na sua arca do nosso sótão. Seus sonetos (já passam de mil os que publiquei nestes seus 22 blogs) constituem por si só um corpo de obra monumental, sem contar os textos em prosa, contos e crônicas, lendas e romances. Este soneto me encantou sobremaneira, pois, como testemunha, quantas vezes também despertei com as sonoras e sinistras badaladas do relógio e fui encontrar a Alma, linda e nua a ler na poltrona do escritório onde adormecia novamente com freqüência, até ser descoberta ali, nesse estado, por nossa mãe, que a arrastava dando-lhe lambadas até o quarto, ou por nosso Vati, que ao contrário a carregava nua no colo, com carinho, de volta ao seu leito.(Lucia Welt)
Há 6 anos
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