terça-feira, 2 de outubro de 2007

Cântico para Alma Welt (poema de Lucia Welt)

(Passados seis meses da morte da Alma, eu, Lucia, sua irmã, escrevi este "cântico" para homenageá-la, e espero não estar sendo pretenciosa ao publicá-lo aqui, entre as obras da grande poetisa).

Um cântico para Alma Welt
(poetisa, irmã, imortal)
por Lucia Welt

A macieira floriu, a tua macieira,
mas foi por ti, desta vez...
Não posso dizer que os pássaros não voaram
cantando na tua pradaria: eles o fizeram por ti!
Por ti, doce Alma deste pampa, as coisas permaneceram
para serem dignas de ti e fiéis para sempre.
Tua cascata ainda chora a visão da tua nudez deslumbrante
sob a água, pálido nenúfar, alabastro puro
ou Carrara milenar.
Teus cabelos flutuando de ruiva medusa
e teus lábios frios no último beijo
do teu perdido irmão...
O ‘‘gaucho” te trouxe desvelada e tão alva,
nos braços pela campina esvoaçante e em susto
para depositar-te na grande mesa na tua vigília nua.
E agora a mesa recende o teu aroma
e divisamos teu formoso corpo no branco das toalhas.
Sei que esta noite virás como todas as noites desde então
para mostrar-me algo que teima em não desvelar-se
ante meus olhos enevoados de chorar por ti.
Sempre me ofuscaste com teu brilho...
perdoa-me pois,irmã, não compreender.
Só posso amar-te, nunca pude mais que isso...
e não estava lá para poupar-te do abraço
da outra branca dama que em tua inocência ansiavas.
Nunca pude defender-te...
eras demasiado sagrada para mim para ousar querer poupar-te
da vida e da morte como bem desejaria.
Pois reinavas e reinas ainda nestas pradarias do teu Pampa
sublimado pelos teus versos imortais.
Pouco precisaste de mim e maior honra me fizeste
(que não merecia) ao te joelhares para beijar-me as mãos
quando te prometi silêncio um dia.
Agora tudo fala e canta por ti, poeta e musa deste Sul,
que já me honravas em demasia em voltar ao mundo como minha irmã.
Como ser poeta para cantar-te como mereces?
Não posso, não alcanço.
Todavia percebo: a Natureza o está fazendo
por mim, por nós, para sempre.

06/06/2007

Um comentário:

Madalena Barranco disse...

Lúcia, seu blog é um tesouro de ternura!!! Sua poesia para Alma é uma canção que não é de despedida, porque o enigma do amor fraterno está além de nossa compreensão! Parabéns pela sua arte. Beijos.