quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O Muro e a Porta (de Alma Welt)




Transformar flagrante em algo eterno
E assim perpetuar a sutileza
De um olhar ou gesto forte e terno,
Capaz de dar à mente uma clareza,

Nem que seja de um momento tão fugaz
Mas que me pode, captado, redimir
De tantos outros perdidos sem sentir,
Pastora inepta do Eterno Capataz...

Eis a meta que a si mesma se elabora
Não só como um projeto de futuro
Mas a cada instante, aqui, agora...

Pois se o sonho meu nasceu de um trauma *
E por meio do temor constrói um muro,
Também abriu a porta desta Alma...

(sem data)

Nota

*Pois se o sonho meu nasceu de um trauma - Embora possamos deduzir que o trauma a que a poetisa se refere foi o flagrante produzido por nossa mãe, a Açoriana, da Alma e Rodo, guris, brincando eroticamente sob a macieira do nosso pomar, a conseqüente expulsão do seu paraíso infantil e a separação dos irmãos por muito tempo, é curioso notar que em alemão a palavra sonho é Traum ou Träumen, da qual derivou em português o termo psicanalítico "trauma". Pode-se ler, então um subtexto: pois se o sonho meu nasceu de um "sonho perdido"...

(Lucia Welt)

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