


Ciganos
Escolhi a Beleza, e sinto muito
Aos que mo apontam o lado imundo,
A querer-me mais que olhar fortuito
Sobre a face real do nosso mundo.
Mas dessa tal realidade, que sei eu?
O sonho anda comigo e dele sei.
E se amiúde a dor me comoveu,
Também era beleza, e então parei.
E pus a minha mão sobre o leproso
E a mulher carente tão materna
Que jamais tivera seu esposo...
E aquela suja e bela boa cigana
Que comigo foi expulsa da taberna
Pois que lia a mão que só me engana...
(sem data)
Nota
Acabo de descobrir na Arca da Alma este soneto inédito que me comoveu pois no último terceto reconheci as circunstâncias reais do primeiro encontro de minha irmã com a cigana Rafisa, que iria daí por diante ser sua amiga e mesmo amante... Alma escreveria vários textos contando episódios da convivência delas, que já postei aqui, como a crônica Safira, Eu e os Ciganos, e A Peregrina. E há um capítulo inteiro sobre essa relação ardente, quando se reencontraram no sertão da Paraiba, no romance O Retorno dos Menestréis.
Aqui neste soneto, minha irmã alude ao episódio em que a Rafisa entrou numa taberna em que estávamos tomando vinho, e com um olhar fulgurante foi direto em direção à Alma e agarrou-lhe a mão para ler a sua sorte. Como a Alma deixou e começou a passar a mão no rosto sujo da moça, depois de uma discussão com o taberneiro que queria arrastar para fora a cigana, acabamos todas expulsas e a Alma levou a Rafisa para nossa casa para dar-lhe um banho de banheira com suas próprias mãos...
(Lucia Welt)
Nenhum comentário:
Postar um comentário