quarta-feira, 14 de julho de 2010

Radares (de Alma Welt)

Voltei a deitar na pedra chata,
Nua como quando era guria
Neste mesmo poço da cascata
Que tanto me serviu de alegoria.

Mas algo está mudado, eu o sinto,
Como se do bosque venha olhares
E uma vaga ameaça que pressinto
Na pele e nos meus pelos, meus radares.

Lembro que Matilde advertia...
E a Mutti com a vara de marmelo
Não podia mudar o que eu sentia:

Esta forte atração primordial
Do meu ser corporal que assim desvelo,
Por beleza que me sei, talvez fatal...

11/01/2007

Nota
Acabo de descobrir este soneto, doloroso para mim por denotar o pressentimento do perigo que haveria de vitimar minha irmã dez dias depois...
Para que os leitores recentes entendam, republico aqui um soneto mais antigo em que a Alma fala dessa "pedra chata" do seu "poço da cascata", que lhe serviu de "alegoria", como estas:


Prelúdio à tarde de uma ninfa (de Alma Welt)
(44)

Muito me estendi na pedra chata,
Nua como Zeus me concebeu
Na borda do meu poço da cascata
A sonhar com algum herói aqueu

Que me possuiria sem coroa
Me doando como um fauno a sua linfa
Por me ver ali largada como ninfa,
Sem véu e sem grinalda, assim à toa.

Nada de castelos, carruagens
De abóbora, sapatinhos de cristal,
Nada dessas pueris bobagens!

Eu me via num bosque ideal
De um remoto tempo arcadiano,
Com Debussy, o Vati... e seu piano.

20/12/2006


A Fonte dos meus versos (de Alma Welt)
(32)

Meus versos descem qual cascata,
Aquela do meu poço encantado,
Onde nua eu nado sem bravata
Mas como um ritual inusitado.

Mas, ah! era dos versos que eu falava,
Agora não é hora de banhar-me!
É noite e só resta desvelar-me
No jardim que este poema evitava.

Sim, quero falar do verso fluido,
O ato de escrever que me domina
E que é fonte, e verte como mina

Que nasce desta Alma em catadupa,
Despejando doces rimas que eu cuido
Como o fruto do Jardim mas... sem a culpa.

17/12/2006

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