segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Estaremos (de Alma Welt)

Estaremos por aqui na derrocada,
Percorrendo o arruinado casarão
Com as ervas lá subindo pela escada
Que nos viu escorregar no corrimão

Em risos e gritinhos, eu e Rodo,
Quando de nossa infância gloriosa,
Depois nos amando em cada cômodo,
Na doce transgressão já rumorosa...

Ou então, espectros belos e traquinas,
Nos verão outros peões e suas prendas
No pomar em novos ritos e oferendas.

E quando um viajante aqui passar,
Dirão, o dedo em riste para as ruínas:
"Alma e Rodo ainda são vistos ao luar"...

(sem data)


Nota
Acabo de descobrir este soneto na Arca da Alma, inédito embora de tema bastante recorrente na obra da poetisa. Republico aqui, como exemplo, este outro (n° 163 dos Pampianos da Alma) de tema análogo:


A Abantesma (de Alma Welt)


Ó casarão da minha infância
E que me verá adormecida
No último sono, já sem vida,
Para ser a abantesma desta estância,

Por aqui onde vivi a fantasia
De ser mulher-poema e musa errante
Do meu bosque, do jardim, da pradaria
E de todo o meu pampa circundante

E quando estiver morta, que me vejam
A galopar sob o céu da Branca Via
Nua como em vida já se ouvia

Ou mesmo que não muito créus estejam,
Afirmem pra seus piás e filhas:
"Alma vagou esta noite nas coxilhas!"

18/01/2007

Nota
Fiquei pasma com este belíssimo soneto, e o achei profético, pois é realmente o que tem acontecido por aqui: Alma tem sido vista pelos peões e suas mulheres e filhas, tanto quanto por mim, acreditem vocês ou não. Seu espectro muito branco, translúcido, vaga pelo jardim, pelo pomar e pelas colinas, perdendo-se no bosque. Eu já o segui três vezes, e numa delas encontrei na praia da cascata, brilhando á luz da lua, o anel de prata de lenço de vaqueiro que serviu para a identificação de seu assassino. Mas isto é uma penosa história que fico devendo e contarei mais tarde aqui mesmo neste blog. (Lucia Welt)

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