segunda-feira, 24 de novembro de 2008

No Labirinto da Alma (de Alma Welt )




Pelos labirintos desta estância
Vagueio como outrora sob a luz
Agora com temor e esta ânsia
Que não obstante me conduz

Pelas sendas onde ontem fui feliz
E corria alada a colher flores
Para florir meu quarto de aprendiz
Da Poesia, do Amor e suas dores.

Como viver os dias que me restam?
É a pergunta recorrente, intrometida
No rol de pensamentos que me infestam.

Ruivas colunas, galgando patamares,
Ruivos cabelos flamejando pelos ares,
Eis a Alma... que corre... já ferida!

18/01/2007

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Nota
Estarrecida acabo de encontrar este soneto inédito da Alma em sua arca do sótão, em que a imagem do Labirinto se confunde com a escadaria de colunata vermelha do palácio de Cnossos, em Creta, que nitidamente é o cenário ou metáfora que perpassa o poema, de dolorosa premonição da morte. Na verdade, cheguei rapidamente a essa interpretação porque Alma tinha um cartão postal dessa escadaria ladeada de colunas ("ruivas" como os seus cabelos) pregado com alfinete num painel de cortiça, de recordações de viagens e amigos, no seu quarto. Alma acreditava ter já vivido em Creta nesse palácio do Labirinto. Mais uma vez tive que chorar... (Lucia Welt)

Foto:
Palácio de Cnossos, o labirinto de Creta

2 comentários:

R. M. Peteffi disse...

grande poema, Lu!

a imagem do labirinto é uma espécie de constante, pelo que me parece, na obra da Alma, por mais que não seja nomeada, às vezes, essa imagem...ela usava com bastante propriedade sempre, e com exatidão...

tava aqui, relendo alguns...A Mensagem me deu un insight...uma vez, Fernando Pessoa escreveu que os gênios geralmente podem chegar ao que são por um senso de missão, e que uma coisa pode estar ligada a outra...penso que a alma se enquadra nesse panorama, bastante precisamente...!

tenho lido mais também os poemas - não sonetos, mas com versos livres - , e são bueníssimos, mas é redundante falar...

'O mistério
no entanto
é a contradição:
o belo
engloba tudo
o cômico e o
grotesco
num saco
gigantesco
de aparente
confusão'

por ex...achei bem luzente a colocação. e tem tantas!

bom, no mais, isto...
espero que esteja tudo bem com vc!
hehe
bom início de dezembro..!
bjos

Lúcia Welt disse...

Querido Corso!
Que bom te ver por aqui novamente!
E citando versos da Alma bem curiosos, em que ela reafirma sua visão essencialmente artística da vida, pois sabia ver a beleza também no grotesco, na feiúra.
E tu, seu poeta-filósofo, tens escrito bastante, poemas curiosíssimos, numa linguagem que já te é peculiar, meio arcaica, soando a Portugal medieval, não fora a ausência de rimas. Tu és uma figura!
Bom Dezembro! Boas Festas! Se beber não dirija!(risos)
Beijos da Lu