
Pelos labirintos desta estância
Vagueio como outrora sob a luz
Agora com temor e esta ânsia
Que não obstante me conduz
Pelas sendas onde ontem fui feliz
E corria alada a colher flores
Para florir meu quarto de aprendiz
Da Poesia, do Amor e suas dores.
Como viver os dias que me restam?
É a pergunta recorrente, intrometida
No rol de pensamentos que me infestam.
Ruivas colunas, galgando patamares,
Ruivos cabelos flamejando pelos ares,
Eis a Alma... que corre... já ferida!
18/01/2007
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Nota
Estarrecida acabo de encontrar este soneto inédito da Alma em sua arca do sótão, em que a imagem do Labirinto se confunde com a escadaria de colunata vermelha do palácio de Cnossos, em Creta, que nitidamente é o cenário ou metáfora que perpassa o poema, de dolorosa premonição da morte. Na verdade, cheguei rapidamente a essa interpretação porque Alma tinha um cartão postal dessa escadaria ladeada de colunas ("ruivas" como os seus cabelos) pregado com alfinete num painel de cortiça, de recordações de viagens e amigos, no seu quarto. Alma acreditava ter já vivido em Creta nesse palácio do Labirinto. Mais uma vez tive que chorar... (Lucia Welt)
Foto:
Palácio de Cnossos, o labirinto de Creta
2 comentários:
grande poema, Lu!
a imagem do labirinto é uma espécie de constante, pelo que me parece, na obra da Alma, por mais que não seja nomeada, às vezes, essa imagem...ela usava com bastante propriedade sempre, e com exatidão...
tava aqui, relendo alguns...A Mensagem me deu un insight...uma vez, Fernando Pessoa escreveu que os gênios geralmente podem chegar ao que são por um senso de missão, e que uma coisa pode estar ligada a outra...penso que a alma se enquadra nesse panorama, bastante precisamente...!
tenho lido mais também os poemas - não sonetos, mas com versos livres - , e são bueníssimos, mas é redundante falar...
'O mistério
no entanto
é a contradição:
o belo
engloba tudo
o cômico e o
grotesco
num saco
gigantesco
de aparente
confusão'
por ex...achei bem luzente a colocação. e tem tantas!
bom, no mais, isto...
espero que esteja tudo bem com vc!
hehe
bom início de dezembro..!
bjos
Querido Corso!
Que bom te ver por aqui novamente!
E citando versos da Alma bem curiosos, em que ela reafirma sua visão essencialmente artística da vida, pois sabia ver a beleza também no grotesco, na feiúra.
E tu, seu poeta-filósofo, tens escrito bastante, poemas curiosíssimos, numa linguagem que já te é peculiar, meio arcaica, soando a Portugal medieval, não fora a ausência de rimas. Tu és uma figura!
Bom Dezembro! Boas Festas! Se beber não dirija!(risos)
Beijos da Lu
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