quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Sons da noite (de Alma Welt)

As paredes vetustas desta casa
Trazem-me os sons de outra era
Como um ruflar de negra asa,
Cheios de dor que reverbera .

Distingo nas noites os gemidos
Das filhas do pobre Valentim,
Os gritos da viúva, os latidos
E logo o uivo de um fiel mastim

Ali, ao pé do corpo que pendia
Da trave do telhado, assim, no sótão
Onde depois o belo Rôdo dormiria

Impávido e inocente o meu irmão,
A embalar seu sono a algaravia
E o sussurrar de um proibido coração.

11/12/2005

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Sonidos de la noche (de Alma Welt)
(versión al castellano de Lucia Welt)

Las paredes viejas de esta casa
Me traen los sonidos de otra era
Cual ala negra o un tonel que vaza,
Llenos del dolor que reverbera.

Distingo en la noche los gemidos
De las hijas del pobre Valentim,
La grita de su viuda, los ladridos
Y el aullido triste del fiel mastín

Allá, al pie del cuerpo que pendía
De la viga en el sótano sufrido
Donde el bello Rodo dormiría,

Hermano inocente y confundido,
Su sueño a acunar la algarabía
De otro corazón tan prohibido.

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Nota
Mais un soneto em que Alma insere menção à sua relação com nosso irmão Rodo. Entretanto pareceu-me detectar aqui, pela primeira vez, uma nota de consciência (não de culpa) da proibição dessa relação.(Lucia Welt)

5 comentários:

tork disse...

gostei...

Anônimo disse...

Lúcia, tenho acompanhado teus comentários, no blog do Corso e lido alguma coisa da Alma, que realmente escrevia muito, muito bem mesmo. E você? Poesias?

Lúcia Welt disse...

Ricardo
Que prazer receber-te aqui no meu espaço, e saber que aprecias os textos e poemas de minha saudosa irmã! Quanto a mim, comecei a escrever somente depois da sua morte, para comentar seus textos. Escrevi alguns poemas, muito poucos, sempre homenagens à minha grande irmã, que, ela sim era uma poetisa em tempo integral(embora também pintora). Meus poemas se encontram aqui no meu blog(ponha em "pesquizar blog":

"Manhã orvalhada" de Lucia Welt (eu ainda não tinha descoberto (o que aconteceu recentemente) o soneto da Alma exatamente com esse título.

"Pelas sendas do Vale Encantado" (de Lucia Welt para o poeta Claudio Bento)

"Ao poeta do Vale Encantado"(de Lucia Welt, para Claudio Bento)

Mais um poema para Alma Welt (de Lucia Welt)
e
"Cântico para Alma Welt" (de Lucia Welt)

Somente esses até agora, e as minhas versões um tanto livres para o castellano, dos últimos sonetos inéditos da Alma, que tenho descoberto em sua arca (31 até o momento)
E isso, meu caro Ricardo, serei talvez uma poetisa nascente ou tardia, não sei... mas sinto que a poesia está me tomando cada vez mais, aos poucos, desde de que me puz a pesquizar a obra e a vida secreta de minha irmã, que me deslumbra, comove e estarrece.

A gente vai se falando, se quiseres..

Beijo
Lu

tork disse...

não deixa de ser curioso, porque perguntei-te antes sobre os teus escritos, manifestei meu interesse em ler-te, pela sensibilidade percebida... mas, guardo agora uma nítida impressão de que não sou bem-vindo...deves ter teus motivos, obscuros para mim... mas, que seja, não voltarei a te importunar...

Lúcia Welt disse...

Quê é isso, meu querido torkmurphy?Estarei enganada ou manifestaste um pequeno acesso de ciúmes? Não, não, eu frequentemente me confundo ou me distraio, e não percebi a tua pergunta na ocasião! Te peço mil perdões! Respondi ao Ricardo algo que já havias me perguntado e ficaste sem resposta... Estou desolada. Perdoa-me. Nem penses em sumir agora. Tu és mais que benvindo, já és um querido! Por favor...
Mas olha, a resposta é essa mesma, sou uma "poetisa" recente(se se pode dizer assim) com poucos poemas escritos, e mais versões para o castelhano dos sonetos da Alma, do que qualquer outra coisa. Literariamente tenho me dedicado a comentar a obra de minha saudosa e grande irmã, pois sei que jamais chegaria aos pés dela, que tinha a estatura de uma Musa, como todos já estão percebendo. É a missão da minha vida, e me ajuda a consolar meu coração dolorido demais com a sua trágica perda. Se paro de me dedicar a ela, à arte que ela nos deixou, a dor me avassalará e me matará também. Assim o sinto.

Volte, volte sempre e me fale, comente, não me deixes não...
Um beijo e novas desculpas
da Lu