SENZALA E QUILOMBO
Para lúcia Welt
Navio negreiro
Soltou
Negro na senzala
Negro
Catou
Ouro diamante pedras de valiosos quilates
Plantou
Ilusão na leseira do banzo
Alguns fugiram para inventar quilombos
Outros voltaram para a Àfrica
Muitos morreram vertendo sangue nos pelourinhos
Outros ficaram
Bateiando sua própria sorte nas águas dos rios
Cláudio Bento
Lu, digo que estou num momento de maior engajamento político quanto à questão racial, quanto à postura do negro diante do mundo, diante das adversidades, numa sociedade feita de grande e velado preconceito.
É claro que esta postura veio crescendo dentro de mim através dos anos, para eclodir agora em mim. Foi preciso um profundo interesse por literatura, música, movimentos populares, para amadurecer o sentimento de luta por um mundo melhor não só para negros e pardos, mas para o homem, sem distinção de cor ou credo. Fruto desse amadurecimento, meu livro intitulado Carnaval Candombe, está sendo escrito aos poucos e está crescendo. São poemas que versam sobre a cultura negra, a religião, a culinária, as festas, a riqueza implícita na presença do negro no Brasil. Por outro lado, a minha participação na luta por implantar uma biblioteca no quilombo da Mumbuca, também faz parte do leque de ações que pretendo desenvolver, resgatando as manifestações artísticas e culturais inerentes à cultura negra, como por exemplo reativar a festa do rosário da comunidade de Laranjeiras, no quilombo da Mumbuca ou mesmo trabalhar a auto-estima dos quilombolas através de oficinas de capoeira, de penteados afros, de cozinha africana, de criação literária, de exibição de filmes. Ao longo desta caminhada alguns autores tiveram importância fundamental na minha formação : Gilberto Freyre com seu Casa-Grande e Senzala, Joaquim Nabuco, Sérgio Buarque de Holanda, Antônio Risério, Jorge Amado com seus livros sobre a cultura popular da Bahia, Castro Alves e seu Navio Negreiro; Edson Carneiro e seus livros sobre os orixás, a existência do samba como ritmo primordial do país, o advento do carnaval, o maracatu de Pernambuco, as danças, os folguedos, Gilberto Gil, influenciado por Jorge Ben, com suas músicas de apreço à cultura negra, também foi importante para a minha tomada de consciência. Músicas como A Mão Da Limpeza, Sarará Miolo e outras tantas que faziam alusão ao candomblé, Filho de Ghandi é a representação máxima desssa corrente, à umbanda, ele fez um disco chamado Um Banda Um, fizeram com que eu fosse centrando meu pensamento para tal linha política e social que vivo hoje e estou feliz por isto.
Claudio Bento
Há 11 meses
Nenhum comentário:
Postar um comentário