(crônica de Alma Welt )
Meu pai tocava maravilhosamente Beethoven, entre outros grandes mestres. Ele dizia que Beethoven era o maior de todos, também pela sua qualidade pianística, e me fazia ver que o piano do Mestre não era percussivo, não martelava, mas trinava como o canto de um pássaro, e isso seria a sua característica mais marcante. Exigia, dizia ele, grande agilidade dos dedos, para “trinar” assim ou “gorjear”, principalmente nas notas altas.
O Vati me mostrava , tocando inteiras, a maravilha das sonatas Aurora e Apassionata, que ele me fazia ouvir e ver, como música descritiva mesmo, que eram, e como romântico assumido. Na primeira eu via o sol nascendo no meu pampa e a simples contemplação de sua luz na pradaria em tal glória e magnificência, me fazia chorar de alegria de estar viva e de compreender a beleza do mundo, de maneira consciente, graças ao meu pai, o cirurgião pianista que descobrira a validade de dedicar-se ao piano e à sua filha amada, que era eu, sem sentimento de dever perdido, ou de culpa por não mais exercer a também sagrada missão da medicina.
Eu, hoje, olho o piano de meu pai, o Steinway, na biblioteca, silencioso quase sempre, somente dedilhado ocasionalmente por mim, e por Rôdo, mas sem o virtuosismo e esplendor do toque de meu pai, o último grande romântico alemão por estas plagas, e que agora deve estar ao lado de Beethoven, este com sua audição recuperada, discutindo gorjeios de pássaros e pianos.
E também de Goethe, os três em animada palestra, na eternidade de seu *Walhalla artístico, que meu pai projetou sempre em sua bela vida, contemplativa, aprazível, sem culpa...
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Nota da editora
*Walhala – Grande salão, ao ou sala do trono do deus Odin, da antiga mitologia germânica e dos Vikings escandinavos, em que os guerreiros renascidos como tal na eternidade, por prêmio de bravura, reuniam-se para planejar ou comemorar com as Walkírias ( formosas deusas guerreiras) em grandes orgias, as vitórias nas infinitas batalhas da imortalidade gloriosa.
Alma imagina um Walhala dos grandes artistas, verdadeiros heróis da Arte, que ali se reuniriam para palestrar em alegre e eterno convívio. (Lucia Welt)
Há 11 meses
4 comentários:
Estoy triste
Yo, el señor Nezahualcóyotl
Con flores y con cantos
Recuerdas a los príncipes,
A los que se fueron,
A Tezozomoctzin, a Quaquauhtzin.
En verdad viven,
Allá en donde de algún modo se existe.
Ojalá pudiera yo seguir a los príncipes,
llevarles nuestras flores!
?!...se sober de quem é o poema...ofereço o seu peso em ouro!
...a sua poesia...é linda!...a da Alma...é divinal! ogrigado.
Obrigada, doce Graça, pelo seu amável comentário.
Quanto ao poema que transcreveste aqui, por conter nomes aztecas (ou maias?) deduzo que é de algum poeta mexicano indígena. "El señor...) Seria de um antigo servidor de um rei dos maias? Ou dos aztecas? Na verdade não sei... Revela-me aqui, estou curiosa.
Beijo da Lucia
doce...Irmã, Soror Saudade! ( a florbela iria consentir!)...os poetas não servem principes...são os principes!...Nezahualcóytl, Rey-Poeta, Tetzcuco, México precolombiano, 4 / 2 ou 28 / 4 / 1402, nasceu...e nunca mais morreu...porque os poetas não morrem!
...D.Dinis, aqui em Portugal, Afonso el sábio, em Espanha, Al'Mutamid, no Alandaluz...e muitos outros, reis-poetas, a condição social nada tem a ver com a poesia...mas os poetas é que são os príncipes...como a Alma!
acedi ao teu blog por acaso...e vou convidar-te para uma viagem inolvidável sem retorno só para
poetas rumo a Cítera...onde está Alma Rimbaud Lord Byron Garcia Lorca Florbela Espanca Ellizabett Barrett Silvya Plath e todos os poetas...sem porto d'abrigo...com o sonho como bússula...num veleiro louco que ficará sempre á tua espera...
marinheiros! eh marinheiros! desfraldem as velas! este Veleiro Louco quer partir as sereias são tão belas quem lhes pode resistir!...sou o pirata que nasceu maldito condenado antes de nascer sou herói quando ganha traidor quando toca a perder marinheiros! eh marinheiros! desfraldem as velas! este Veleiro Louco quer partir isto aqui vale tão pouco não tenham mãos a medir! sou o cordeiro de deus o cristo sem cruz a lealdade o meu pecado amor atraiçoado a minha virtude marinheiros! eh marinheiros! desfraldem as velas! e ao chegar a noite num quarto sem janelas não descança arde sonha liberdade deixas um rastro de tristeza palavras e tu só e esquecida barco de vela que voa vagabundo das estrelas velho abandonado mulher violada menina sepulcro de todos os sonhos noite perdida no mar liberdade porta aberta que deixas passar contos de fadas quimeras nada liberdade marinheiros! eh marinheiros! desfraldem as velas!que este Veleiro Louco quer partir.
...para ti e para a Alma, um beijo lusitano.
Graça, és lusa!
Para mim e para a Alma é uma honra sermos lidas além-mar por poeta conterrânea de Florbela, que nos envia seu lirismo e nos convida ao seu veleiro louco. Acho que sim... vamos!
Beijos da Lucia
e certamente
também da Alma
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