quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Vida do poeta (de Alma Welt)

Se penso minha vida nesta estância
Eu vejo que afinal não me perdi
Conquanto meus desejos e esta ânsia
Produzam uma tocha em que me vi,

De repente, ardendo em minhas noites
No meio destes prados esquecidos
Neste fim de mundo e seus amoites
De valentes exilados ou fugidos.

Logo busco encontrar o meu prazer
Que está na base mesma da procura
E que a culpa me quer comprometer.*

E então uma coerência se faz ver*
Mesmo dentro do quadro de loucura
Que é a vida do poeta enquanto ser...


(sem data)

Notas
Acabo de encontrar este soneto inédito na Arca da Alma, e mais uma vez constato essa coerência que ela menciona.

*...e a culpa me quer comprometer- Alma certamente se refere ao seu relacionamento incestuoso com nosso irmão Rodo, que nasceu inocentemente na infância de ambos, e a que nossa mãe cobriu de escândalo, procurando incutir um sentimento de culpa que não era natural à indole da Alma, criada por nosso pai, sem batismo e "como uma pequena pagã".

* ...uma coerência se faz ver- Existe uma expressão inglesa se referindo a certos loucos que dizem de repente coisas muito lógicas: "há um método nessa loucura..." Alma brincava com isso, pois somente nossa mãe achava que a Alma era atacada de uma espécie de loucura poética, que ela, a "Açoriana", gostaria de coibir. (Lucia Welt)

Um comentário:

Jorge Lima disse...

Lucia,

Li várias cronicas da Alma e parte de sua correspondência com Claudio Bento. Como tenho algumas considerações a fazer, posto aqui, onde voce pode vetar o comentário se assim achar melhor.
Penso que voce, ao escolher Rosário do Sul como cenário, apostou em que ninguém de lá iria se interessar pelo assunto, quanto mais aprofundar-se na história, em busca de indícios de confirmação da veracidade do relato. Veja que eu mesmo só tomei conhecimento do assunto por ter sido postado no blog do Milton Ribeiro. E logo um policial, por ironia do destino. Percebo, pela definição de polícia da Alma, e pelo personagem do delegado Benotti, que policiais não são lhe são muito simpáticos.
Mas vamos ao que realmente interessa. Voce se refere ao campo como pradaria. Ora, nenhum gaúcho diz isso. A gente fala em várzea e coxilha. Campo aberto é várzea ou pampa, campo ondulado é coxilha. Também não se fala em colinas, portanto não pode existir uma "colina do enforcado", até porque os suicidas costumam se enforcar dentro de casa, nos galpões ou no pátio, perto da casa. Holandeses no Rio Grande do Sul? Nem em sonhos. Nunca conheci um. Conheço alemães, italianos, russos, poloneses, mas holandeses não. Talvez lá no norte do estado, em Santo Ângelo e região, exista alguma família de holandeses. Ciganos acampados em fazendas? Nesses tempos de MST? Seriam corridos a bala, nem bem chegassem perto da cerca. Duelos em coxilha, com regras? Talvez nos romances da Letícia Wyerschowsky. Na vida real, nem pensar. Padre suicida em Rosário do Sul? Não nos últimos 100 anos, com certeza. E por aí vai, poderia apontar muitas outras incongruências. No entanto isso não tira o mérito de sua criação, que é impressionante. Afinal é ficção, e suporta licença poética. Não é bem o meu estilo de leitura, mas posso perceber que são bons textos e que pode virar best seller, até pela aura de mistério que voce conseguiu criar. Talvez voce devesse ter feito como Stephen King e criado sua própria cidade fictícia, embora isso tirasse o peso que a referência a uma cidade real. Com os riscos inerentes, é óbvio.
Não repetirei esse comentário no blog do Milton. Cada um que busque os próprios fundamentos de sua análise e conclusão. Por fim, até o momento não consegui encontrar algo que permitisse identificar o autor por trás do personagem.

Bjs


Jorge Lima
inspetorlima@terra.com.br