Eu fui a este mundo transplantada
Entre os muitos mundos deste mundo,
Eu, tendo nascido numa estrada
Num parto perigoso mas fecundo
Pois fui colocada sobre a relva
E meu ser o palpitar sentiu da terra
E raízes deitou, como na selva
A semente que cai não se desterra.
E estava pronta, não pr’uma cidade,
Embora tenha sido a encubadeira
Preparando-me o enxerto sem saudade,
Ao vinhedo que eu iria incorporar
Como cepa de uma exótica videira
Com meu estro e sangue em seu lagar.
(sem data)
Nota
Para o leitor neófito da Alma entender melhor este soneto (que acabo de descobrir na Arca da Poetisa) republico aqui estas estrofes do poema entitulado Meu perfil, que narra em seu início as circunstâncias excepcionais do nascimento da Musa, numa estrada, nossos pais vindos do Vale do Itajaí(SC) a caminho de Novo Hamburgo:
MEU PERFIL
Em berço de terra pura
Pois à margem de uma estrada,
Conquanto de mãe apeada
De uma bela viatura,
Meu pai colheu-me com a mão
Sem luvas de cirurgião
(que sendo médico e artista
escolheu ser pianista)
E num parto de perigo
Arrancou o seu cadarço
Pra amarrar o meu umbigo
Cortado com um estilhaço
De garrafa de Calvados
Que quebrou com um trompaço
Ficando os cordões molhados,
E também rompendo o laço
Com a bela Açoriana
Que nunca logrou reter-me
Por mais que tivesse gana
De ao seu ventre devolver-me.
Então nesta bela estância
Dos meus avós vinhateiros
Vivi minha bela infância
E meus sonhos verdadeiros
...........................
Há 6 anos
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