sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Análise sucinta do tumulto a propósito de uma mini-saia, numa universidade de São Paulo (por Lucia Welt).

O tumulto ocorrido numa universidade de São Paulo causado pela mini-saia de uma moça, deveria ser analisado à luz da psicologia das massas, disciplina praticamente inexistente hoje em dia e que tentarei configurar em um de seus aspectos básicos.

Houve um enorme retrocesso no processo de emancipação feminina a partir do advento da AIDS no começo dos anos oitenta. Uma série de conquistas das mulheres, decorrentes do movimento feminista a partir dos anos sessenta, foram renegadas e retroagiram. O momento é de uma grande obscuridade social, e talvez mesmo cultural, com a cultura tendo sido atrelada ao consumo, produzindo a chamada “cultura de massas”.

A verdade é que o jovem de hoje é de uma lamentável incultura e conseqüentemente de uma espantosa mediocridade pessoal, existencial. Individualmente é um ignorante, em que pese o seu acesso à informação através da Internet. O jovem típico de hoje, é o contrário do ser "individuado", na concepção junguiana do termo. Fruto da sociedade de consumo, não tem consciência histórica referencial, não tem pensamentos próprios e vive sob o domínio das palavras de ordem do momento e dos modismos quer de linguagem, quer de gostos e padrões de comportamento. É escravo das modas, manipulado pelos chamados "formadores de opinião", os manipuladores das mentes através das mídias: escrita, televisiva e digital. Seres assim, isolados raramente são perigosos, mas quando em ajuntamento constituem um organismo imprevisível como uma manada passível de estouro a qualquer momento, bastando para isso um elemento catalizador do inconsciente de cada membro amalgamando-os para formar o que poderíamos chamar de inconsciente coletivo primal: uma força conjunta primitiva, de natureza violenta e negativa.
Uma multidão de jovens assim, mesmo no ambiente de uma faculdade, é a coisa mais parecida com o fenômeno das massas acéfalas clássicas mobilizadas pelos "senhores da guerra", e basta uma faísca, uma provocação ou uma liderança cega eventual para produzir o mesmo movimento, por exemplo, de um linchamento: a irrupção do inconsciente coletivo no seu componente mais bárbaro, primitivo, violento e sanguinário. Ou, no caso, com raízes na discriminação milenar da sexualidade feminina, que na antiguidade produzia até mesmo a lapidação das adúlteras, ou, mais tarde, a queima das bruxas.
Os meios de comunicação, suspeitos por natureza (já que estão na base do fenômeno) no caso dos jornais televisivos através de seus jornalistas locutores, se encontram obviamente despreparados para uma abordagem em profundidade, e manifestam perplexidade ou atribuem o fato tão somente a uma "atitude preconceituosa”, sem meios ou tempo de irem mais fundo numa análise que, na verdade resultaria desoladora. Estamos novamente em tempos de trevas. E brevemente veremos as massas, constituídas em maioria pelos jovens, gritando algo equivalente ao “Aos leões!...” da plebe romana. E salve-se quem puder....

Lucia Welt

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