(Acabo de encontrar na arca da Alma, este magnífico e misterioso soneto, até então desconhecido por mim, que evoca como metáfora a estaçãozinha e o trem maria-fumaça que serve as nossas terras, imagem recorrente em outros sonetos e também em crônicas e romances de minha saudosa irmã. (Lucia Welt)
Meu trem fantasma (de Alma Welt)
Venham formas-pensamentos, devaneios,
E invadam-me de noite o casarão!
Meus amores estão longe, e os anseios
Preservam-me da negra solidão.
Mas o vazio... a custo eu o evito
Pois sei que ele, só, pode matar-me.
Venha aquele trem, pois, assombrar-me
Com seus brancos fumos e o apito
Naquela plataforma enevoada
Onde sempre deixei os meus queridos
Para vê-los partir em revoada
Envoltos no vapor de suas glórias,
Me deixando aqui, como os banidos,
Num comboio eterno de memórias...
29/12/2006
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A título de curiosidade republico aqui este soneto da série Pampiana, para evidenciar a recorrência dessa imagem da estaçãozita e do trenzito maria-fumaça que serve nossas terras e que era tão querido por minha saudosa irmã. (Lucia Welt)
O trem (de Alma Welt)
(193)
Quando aqui chegava o nosso trem
Na pequena estação perto da estância
Era uma festa enorme para alguém
Que amava os signos da infância.
Os ruidos, silvos e a fumaça,
O vapor envolvendo qual neblina
O vulto espectral de uma menina
Muito branca atrás de uma vidraça...
Era eu que olhava e que me via
Como sempre em tudo em minha vida
Narradora e personagem escolhida
E que esperava a mim na plataforma
Para abraçar-me em meio a algaravia
Daquela multidão quase sem forma.
17/11/2006
Há 6 anos
4 comentários:
Lu!
vc tem razão...é possível que esse raciocínio tenha passado pela mente de buda, ou de cristo, em algum momento da vida deles..."Meu Trem Fantasma" sugere algo assim, de um jeito que me agradou bastante...
por falar nisso, gostei bastante desses últimos sonetos...a Alma cheia de momentos ótimos...não é injusto comparar com a Florbela...ñ em estilo, etc, porque são pessoas diferentes, mas em qualidade...posso dizer também que fiquei impressionado com a quantidade de material produzido por ela...
tenho um amigo na bahia (salvador)que anda envolvido com letras, e tem uns amigos no meio, poetas, músicos, etc...penso em mandar por correio cinco poemas da Alma (datilografados com máquina de escrever, porque ele tem dessas de "o papel é a moldura do poema", rs) e passar os sites (todos, óbvio) tão logo falar com ele de novo, acho que vai fazer bastante bem...qualquer objeção, já sabe...avisa...
bom, por ora...
beijos!
Querido Corso
Tu te referes ao comentário que deixei lá no teu interessante e forte poema de desencanto, que chamei de perigoso "nihlismo"? Esqueça aquilo... o Poeta tem muita faces e pode se dar ao luxo de mergulhar até mesmo no mundo do ceticismo e da descrença, pois para o poeta, como dizia Keats, "tudo resulta em especulação". "O Poeta é um fingidor..." (Pessoa) E além disso, basta ver como estás gostando dos poemas da Alma, para perceber que na verdade não és um "nihilista" empedernido(risos), pois és sensível à pureza e quase ingenuidade da visão "romântica" embora profunda de minha irmã.
Alma tinha uma característica que todos achávamos encantadora: ela conseguia aliar, inusitadamente, a candura à argúcia, virtudes em geral incompatíveis (como bem o notou o Guilherme de Faria em um prefácio). E seu olhar poético (e também físico) era de uma pureza infantil ou de anjo apesar da profunda inteligência. Isso, sim, ela tinha em comum com a grande Florbela. Ah! Corso, tu não sabes que criatura linda e deliciosa era a doce Alma...
Olha, podes divulgar os endereços sim, claro, dos blogs dela que quiseres. Estamos empenhados, eu aqui no Sul, e o Guilherme lá em São Paulo, em divulgar a arte da Alma, por considerá-la relevante, grande mesmo. E nescessária para a nossa época tão prosaica ou desencantada. Alma começou a criar seu próprio mito em vida, a partir de sua obra. Ela era, incrivelmente, a Musa de si mesma. Mas o fazia com propriedade, com legitimidade, consciente de sua beleza interior e exterior, sem que pudéesemos acusá-la de orgulho ou mesmo de vaidade. Pois ela era um arquétipo vivo da feminilidade gloriosa, no que isso tem de melhor, sem nenhum moralismo, pois ela era até mesmo erótica. Um veículo auto-consciente da elevação da condição femimina, tão rebaixada na nossa época de consumismo e futilidade, sem descartar a sensualidade (que passava longe dessas pin-ups vulgares da nossa época. Ela era, sem dúvida a última grande romântica do século XX.
Beijos da Lu
Oi Corso
Esqueci, podes, claro digitar os poemas da Alma e enviar ao teu amigo na Bahia, que acho lindo isso. Barbaridade, guri! com máquina de escrever? Tens também um gramofone em casa? (risos)
Beijos carinhosos da Lu
putz.. tem uma coisa mais ou menos parecida com um gramofone aqui..rsrs
é vero...máquina de escrever, pode?...daí ele manda a opinião em morse...rs
:o]]
beijos!
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