Transcrevo aqui, pinçado do seu blog Teratologia um dos poemas do notável poeta que se assina Corso. Ao que parece um poeta jovem, que sem dúvida é um gênio. Raríssimas vezes deparamos com uma poesia assim poderosa, madura, contundente. E escrita com tal maestria. Tenho certeza que a Alma o descobriria ainda antes que eu. (Lucia Welt)
Um poema do Corso
XVII
quiçá ainda haja dia
para o último bonde cruzar a avenida,
lilás;
novembro dormiu como uma revolução
na maquinaria de uma cereja amarela,
e ainda são as mesmas árvores
guarnecendo os vestidos
e as mesmas flores enfeitando as chuvas
e a mesma lua concentrando os olhos;
o tempo deixa estar as coisas do mundo
o quanto é preciso estarem as coisas no mundo;
são tão líquidos os rosários negros
nas mãos das senhoras
quanto o sangue no peito do condenado,
e há tanta importância nisso
quanto há agricultura no estômago
do mendigo.
ah!, rosa,
és um punho de água na cara
da água misturando-se,
sol e destino,
pétala e maldição,
dama e tronco,
dar-te a quem somos?
as ondas mornas de novembro
e o riso triste de julho,
o pano branco sobre o fim de julieta,
as dificuldades das alcaparras
e os desesperos das cadeiras,
o eterno romance de mim para comigo
sem o congresso
e sem o voto dos fungos,
um fenômeno particular entre
mil particularidades possíveis,
vêm as algas e as terras,
a caixa mórbida de um homem doente,
vêm o pião rodando no escuro,
as ameixas doces
e a clausura verde das uvas
aproximando-se,
o universo
um buraco em que o universo escorre,
sonhando-se lúcido,
amando-se triste,
movendo-se preso.
Corso
Há 6 anos
Um comentário:
Lucia...
um agradecimento muito desajeitado, por ora...rs
a resposta mais exata seria uma flor.
um abraço!
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