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Gravura de Gustave Doré para As Aventuras do Barão de Münchhausen.
Como viver depois de ter vivido
Não o amor mas horror do coração
Após golpe, desonra, humilhação
Ou violação da carne sem sentido?
Como viver com o sonho desfeito
Do que era a própria imagem do viver?
Cair das nuvens ou mesmo desse leito
Onde se foi feliz, e não morrer?
Bah! Há que puxar-se por cabelos
Da alma como o lance do barão
Que afundava só e sem apelos
No poço de uma movediça lama,
E com o baio magro da razão
Alçar-se bem acima dessa cama!
08/03/2002
Nota
Acabo de encontrar mais este soneto inédito da Alma, na sua arca. Publiquei-o imediatamente no blog dela dos Metafísicos. Entretanto detectei nas duas estrofes uma alusão a um estupro real sofrido por ela, não sei se aqui na estância ou em São Paulo. Mas ela se refere a um leito. A julgar por outras narrativas suas eu teria que descartar a imagem de uma cama, que aqui seria meramente simbólica, pois as ocorrências que eu conhecia descartavam esse artefato e mais horrorizavam pelos locais e circunstâncias. Mas, por outro lado, admito a possibilidade de estar equivocada e o soneto da Alma ser uma pura alegoria das desiluções, das dores da alma e da capacidade do ser humano de recompor-se com as próprias forças. Devo lembrar também que a evocação desse episódio das aventuras do famoso barão bávaro é recorrente na obra da Alma, e já fora citado, por exemplo, no final do belíssimo conto Aline, dos Contos da Alma de Alma Welt , publicado pela Editora Palavras & Gestos, de São Paulo.(Lucia Welt)
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