Há 6 anos
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
O Vale Encantado
"O Vale Encantado" - óleo s/tela de 100x140cm, de Guilherme de Faria, coleção do autor.(O quadro está aqui apresentado em dois estágios)
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Claudio Bento, o vate cantor do Vale do Jequitinhonha acaba de me enviar mais estes lindos poemas que comporão o seu livro dedicado a mim, e que vou publicando a medida que ele o vai criando e enviando:
VALE ENCANTADO
Para Lúcia Welt
Pelo vale encantado da minha infância
Dou jardins de inverno da Babilônia
Dou minas de diamantes e rubis
Dou fazendas de porteiras fechadas
Pelo meu cavalo pampa
Pelo meu gato malhado
Pelo meu burrico andeiro
Dou um boi dou uma boiada
Dou manadas de elefantes
Pelo meu vale encantado
Dou milhares de camelos
Araras coloridas de arco-íris
Pelo meu vale encantado
Navego em barco navego em canoa
Viajo a pé viajo de jardineira
Navego em nuvens de vagalumes
Piso meus pés em barro em lama ribeira
Passeio meus olhos em rios e lagoas
Canto uma cantiga de beira-mar
Abro a cancela do meu coração para uma revoada de colibris azuis
Cláudio Bento
BH . Outubro 2007
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Claudio Bento, o grande poeta mineiro do Vale do Jequitinhonha, a próposito de comentário ao quadro do Guilherme de Faria publicado acima, acaba de me enviar este belo e.mail, verdadeira crônica descritiva do seu Vale Encantado:
Lu, meu amor, o vale é uma incógnita, pode ser uma cena de Graciliano Ramos em Vidas Secas, mas pode ser também o vale encantado idealizado pelo Guilherme. Como o Brasil o vale encantado é um contraste, não um mas muitos contrastes. Há uma região do vale encantado que mais se aproxima do quadro do Guilherme, é a região que vai da cidade de Salto Da Divisa à foz do rio Jequitinhonha, no sul da Bahia, região cacaueira, terras de muitas frutas, muitas flores silvestres, muito verde, muita àgua, muitos bichos e o rio majestoso que naquela região tem o apelido de rio de areia. Enfim o mar, o mangue e outros rios. Enfieiras de caranguejos, enlameados, feira de feijão de corda, de beijus de goma, de feijão andu, de geléia de mocotó, de queijo coalho. Pau Brasil na estreita faixa de floresta, Mata Atlântica, oceano atlântico recebendo as àguas do Jequitinhonha em sua casa de areia e búzios, reino de Yemanjá, morada de Oxum, chuvas e raios de tempestade sobre a terra de Yansã. Meu vale encantado aqui é terra roxa, em se plantando tudo dá. Cacau, pitanga, juá, jenipapo, caju, graviola e mais seriguela, jaca, ingá, bacpari e mais biribiri, carambola, manga e pinha do conde. Peixes e camarões do vale encantado. Cachara e cumatã. Piau e lambari. Traíra e timburé. Cascudo e roncador. Bagre africano. Pitus. Camarão de àgua doce. Doce de compota, doce de cortar, doce de escorrer como um melado no tacho, no fogão de lenha.
Os quintais do Baixo-Jequitinhonha são cheinhos de frutas, de galinhas, de patos, de perus. Guilherme adivinhou um vale que permanece em minha lembrança, na verdade existe tal região na confluência do rio Jequitinhonha com o mar. Desde a cidade de Jequitinhonha viajando pelo vale rumo ao sul da Bahia, o panorama é outro, mais verde, alqueires e alqueires de mato puro, o que restou da Mata Atlântica. Esta é uma região de baianos, nada me convence que aquelas pessoas nascidas naquela região do vale são mineiras. O sotaque, o gosto pelos peixes e pelas comidas de azeite, o uso da farinha de mandioca, tudo encaminha esses indivíduos para uma cultura diferenciada que não é mineira, é óbvio que região de fronteira tende à absorção de costumes de uma região ou país. Mas no vale é diferente, o vale é encantado e vai dar no mar. Ah o mar, taí, onde somos mais mineiros, o encanto pelo mar nos fascina e só o mar esconde o nosso segredo.
Cláudio Bento,
o quadro do Guilherme é lindo. Onírico e lindo. Beijos minha musa cor de alabastro.
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RETRATO EM SÉPIA
Para Lúcia Welt
Há em mim uma saudade de infância
Mas o que mais dói nesta saudade
Não é o quintal
Não é a rua
Não é a casa em que morei
E sim
O retrato em sépia da minha avó pendurado na parede da sala
Vigiando meu sono e minha alegria
Claudio Bento
Belo Horizonte- Outubro de 2007
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Um comentário:
Ao vislumbrar este vale encantado, percebo como nós poderemos evoluir para viver aqui e estar em espirito mais proximo de Deus,este vale representa a passagem do humano ao sobrenatural,
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