quarta-feira, 3 de outubro de 2007

E-mail-poema de Claudio Bento para Lucia Welt

Como "musa" do poeta, que ele assim me honrou, "noblesse oblige" que eu aqui publique suas belas cartas em e.mail. Esta que ele acabou de enviar-me é realmente um poema em prosa com uma sugestiva "enumeração cáotica", barroca e deslumbrante como a terra das Minas Gerais que ele tanto ama.

claudio bento para mim
mostrar detalhes 16:46 (7 minutos atrás)

Lu, pois então enviarei para ti através do Guilherme tudo o que gostaria de ter enviado antes : um exemplar do Suplemento Literário De Minas Gerais, um postal de Ouro Preto, Um poemeto sobre Ouro Preto, uma revista Telas E Artes contendo o Cheiro De Jenipapo e um beijo molhado sob o selo do correio. Sinto falta sua. Por favor me escreva todo santo dia.
Fui a Ouro Preto, cidade-presépio, patrimônio da humanidade, sítio histórico berço da poesia e da revolução. Ouro e prata incrustados na terra. Diamantes de el rey. Correntes, mina de ouro amarelo, sol de terra estrangeira, sal da terra, sul da cidade a borbulhar o burburinho da conspiração. Casario. Telhado cor de ocre. Janela azul. Pedra corrida. Céu de brigadeiro. Chico Rey subindo a rua Direita. O itacolomi decorando a serra. O vento. O frio. A sexagenária na varanda do sobrado. Barroco. Barroca. Anjos barrocos de buchechas coradas. Igreja do rosário dos pretos. Ouro Preto. Ouro branco. Ouro manchado de sangue. Rei e rainha. Maracatu. Capoeira. Nossa Senhora Do Rosário Dos Homens Pretos. Capitão do mato. Capitão de tambor. Dança e glória. candomblé de terreiro. Pai velho. Catimbó. Mandinga. Cavalo de São Jorge. Espada de São Jorge. Ogum. Ogunyê. Saudade lusitana no coração. Violão plangente. Fado de nunca existir. Vinho do Porto. Bacalhoada mergulhada em azeite. Pé de moleque. Mingunzá. Xinxim de galinha. Azeite de dendê. Refresco de cacau. Ouro de mina. Lavras Novas. Vila Rica dos meus sonhos sonhados em pedra-sabão. Dona Olímpia perdida nas ruas noturnas de Oro Negro. Ouro escondido em carapinha de preto. Becos. Ruas. Coretos. casarão deserto. O Museu da Inconfidência alargado na paisagem de sol e de bruma fria das manhãs de inverno. Novamente igrejas. A mão do jesuíta presente no altar. Na hóstia sagrada. Na procissão do divino espírito santo. Indumentária de cor roxa. Adro. Andor. Confessionário. Macumba no morro. Na periferia. Nas minas. Negro angola pisando barro. Recorte de montanha no espelho dos olhos. Bárbara bela do norte estrela. Poetas. Poemas. Inconfidência. Cena trágica de enforcamento. Confinamento. Morte. Exílio. Loucura. A história a ferro e fogo das minas gerais.

Recortes de impressões do meu olhar sobre Ouro Preto Ontem. Dedico a você. Com um beijo do Bento bem no biquinho do peito.

postado por Lúcia Welt às 12:57

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Cláudio Bento disse:

Lu, você me deixa surpreso, que grande delicadeza e carinho publicar os emails-poemas, ótima expressão, um novo gênero literário ? O grande lance é que você é simplesmente demais. E o que andas escrevendo sobre mim está divinamente maravilhoso.

29 de Setembro de 2007 05:49

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