quinta-feira, 1 de abril de 2010

Au Café, Rimbaud et moi (de Alma Welt)


Retrato imaginário de Rimbaud- desenho de Guilherme de Faria, 1976, 74x30cm,coleção Marta Assumpção de Faria, São Paulo

Au café, Rimbaud e Moi (de Alma Welt)

Quando em Paris, eu sentava num Café
A escrever os meus sonetos todo dia,
Até que o chef, como ele se dizia,
Veio a mim, pra meu espanto até,

E com raro sorriso à la crème:
“Mademoiselle, on s'aperçoit que vous êtes poète,
Vous êtes assise à la table même
Où Rimbaud, plume a la main, courbait la tête.”

E eu, grata, devagar a mão passei
Sobre a madeira escura e imaginei:
Aqui l’enfant prodige fez um ninho...

Pois o andarilho e mau caminho,
Sem mesmo ter perdido um pé sequer,
Estava ali, “un pied près de mon coeur...”

(sem data)

Notas
* l’enfant prodige- "criança prodígio", Rimbaud escrevia magistralmente desde os 14 anos, e fugiu de casa, a pé, aos 17, para encontrar Verlaine em Paris. A expressão parece também evocar "l'enfant prodigue" o filho pródigo que ele era, pois só voltou para casa para morrer.

andarilho e mau caminho- Rimbaud era um andarilho contumaz e cruzou parte da Europa várias vezes à pé. O "mau caminho" que Alma lhe atribui deve ser equivalente a "pedaço de mau caminho", alusão ao fato de que Rimbaud era um rapaz lindo, e também considerado um transviado de sua época.

*sem mesmo ter perdido um pé sequer- Alma quis dizer que o espirito de Rimbaud estava intacto ali naquela mesa, sem apresentar a mutilação de uma perna com que morreu em Marseille num hospital, vindo da África com terrível gangrena.

“un pied près de mon coeur...”Verso final do célebre soneto "Ma Bohème" de Rimbaud, que sugere o curvar-se, o peito contra o joelho, para reamarrar o cadarço ("tirer les élastiques") da botina de andarilho. Mas o interessante é que a citação do verso no contexto do soneto da Alma parece dizer que aquela perna ferida ou ausente, está encostada no coração dela, Alma.

(Lucia Welt)

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