sábado, 13 de fevereiro de 2010

O Segredo da Alma (de Alma Welt)


Alma Welt- No olho mágico- óleo s/ tela (tondo) de Guilherme de Faria, 60cm de diâmetro, coleção Rafael Cortez( CQC), São Paulo

Encontrei, finalmente, um soneto em que a Alma revela o pacto que ela fez com o artista Guilherme de Faria, um grande mestre paulistano, quando se conheceram no "auto-exílio" de cinco anos que Alma se impôs, naquela cidade, após a morte de nosso Vati.
Os leitores da Internet que duvidam da "existência real" da grande poetisa, o fazem justamente pela ausência de fotos dela e de sua família, na estância, etc, no âmbito da Internet. Já me referi algumas vezes a esse pacto feito entre a Alma e o artista, único pintor brasileiro a quem a Alma confiou sua imagem, a partir desse "pacto" que aconteceu entre eles no quinto dia após o primeiro encontro, em 15/07/2001, nos Jardins, em São Paulo. Eles muito se amaram, e praticamente se viam diariamente no ateliê da Alma, onde ela posava para ele em toda a glória de sua nudez deslumbrante. Nota-se que o pintor representa os cabelos da Alma ora louros, ora totalmente ruivos. Era mesmo dificil dintinguir a predominância dos tons que pareciam se alternar conforme o dia, a luz, etc, e (pasmem!) o estado de espírito da nossa Musa (acreditem ou não) Eis o soneto:

O Segredo da Alma (de Alma Welt)

Não guardar segredos para o mundo
Foi o meu propósito e mistério.
Ninguém como eu mesma foi mais fundo
Sem confessionário ou batistério;*

Uma volúpia de revelar também,
Nos impulsos de um ingênuo coração,
As ânsias sem alívio de oração,
Desta alma que o corpo mal contém.

Doravante um segredo não revelo:
Meu rosto, que dizem ser tão belo,
E eu mesma o sei perante o espelho,

Será mostrado pelo olho de um artista *
Cuja paixão será última conquista,
Em minha alvura dois pontos de vermelho.*

25/07/2001

Notas

*sem confessionário ou batistério - Alma não se considerava católica, nem sequer cristã. Nosso pai, livre pensador e agnóstico, a retirara dos braços da Mutti, nossa mãe, a "Açoriana" (como Alma a chamava ), católica, que tentava furtivamente levar o bebê para a cidade mais próxima para batizá-la, o que não ocorreu, pois nosso pai, tendo percebido, perseguiu a cavalo a charrete conduzida por Galdério e a interceptou, tomando a Alma dos braços de sua esposa e dizendo categoricamente: "Essa é minha!"

*será mostrado pelo olho de um artista- Única referência descoberta até agora, num texto da Alma, ao referido "pacto" com o pintor, talvez o maior reponsável por esse "Mistério Alma Welt". Mas,devo reconhecer que a Alma, com toda sua doçura, malgrado grande inteligência, e com sua tendência a confessar-se quase ingenuamente, era mesmo uma personalidade misteriosa em suas contradições, pela estranha beleza com que revestia tudo o que fazia e tocava em sua vida. Poucos seres neste mundo viveram, como ela, em permanente dimensão poética.

* Em minha alvura dois pontos de vermelho- Alma, que era de uma brancura extrema, como uma estátua de alabastro, tinha cabelos belíssimos que produziam um lindo contraste porque eram arruivados. Mas pode-se notar em alguns sonetos que, às vezes, ela se referia também, eroticamente, aos seus pelos púbicos, que eram ruivos. Veja por exemplo, este soneto já há tempos publicado:

Ao espelho (de Alma Welt)

Se começo a perceber-me tão sozinha,
Recordando o meu Vati (ah! como dói),
Com perigo de sentir-me pobrezinha,
Então algo em mim me reconstrói.

É quando começo a desnudar-me
Arrancando-me a roupa com furor,
E passo a realmente olhar-me
E meu ego finalmente recompor.

E logo erotisada e aberta assim,
Eu vejo que, guria ainda, eu soube
Que meu corpo era o reflexo de mim.

E eis-me triunfante frente ao espelho
Na glória da beleza que me coube
Em alvura e detalhes de vermelho!

09/05/2004

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