
Alma Welt diante de sua árvore sagrada- pintura de Guilherme de Faria, em que ele situa a Alma entre montanhas, que na verdade aqui não existem. Talvez seja como ele imagina o novo território sagrado da Alma...
Oi Tania
Que linda é a região serrana! És uma privilegiada de viver aí. Às vezes esta amplidão plana da pradaria me dá uma agonia, apesar das coxilhas... E não haver nada num horizonte sem fim me dá uma nostalgia de não sei o quê... Passei a sonhar com a Alma como se ela fosse minha pátria perdida e choro só de pensar que em sua vida não a abracei tanto como deveria e queria. Todos dias me debruço sobre a montanha de seus textos, sentada no chão do nosso sótão, diante da sua arca e a reviro para encontrar textos seus inéditos... e os encontro, sem fim, surpreendentes, pujantes, candentes, aumentando o seu mundo já tão grande, tão profundo e lírico, que tantas lágrimas me trazem de enternecimento, beleza e... tristeza, também. Como é trágico o destino dos grandes artistas! Sempre. Pois eles vivem um sonho de beleza e grandeza, que é um mundo paralelo, que não podemos atingir em totalidade e que por isso mesmo os dota de uma desesperada solidão, malgrado o poder sedutor e aliciante de suas palavras e gestos. São pequenos deuses, são semi-deuses que habitam entre nós, intangíveis, olímpicos, imortais que se vão sempre cedo demais, tão necessária para nós é sua misteriosa vida. A beleza de minha irmã, física e espiritual, Tania, era um privilégio que desfrutávamos, nem sempre compreensivos ou dignos dela.
Nossa mãe a surrou muitas vezes na nossa infância e adolescência, pois Alma, em sua beleza corporal e anímica deslumbrantes, se desnudava amiúde, como uma necessidade de oferecer-se, pois a a sua visão era como uma dádiva celestial pagã, que nossa mãe não podia compreender ou suportar. Eu me prosternava diante dela e a adorava. Eu queria ser sua servidora, para sempe e... afinal o sou. Quando pequena, uma vez, ajoelhada diante dela tomei seu pezinho nas mãos e o beijei, em adoração. Até hoje o avisto entre minhas mãos, seu pezinho branco, branco, perfeito e delicado como de uma estátua grega, e com um perfume de flores. Estou persuadida de que ela era mesmo divina. Ela era Psiqué, que habitou entre nós, nesta estância gaúcha perdida nas brumas do tempo e frequëntemente açoitada pelo minuano, o "rei Mino" que ela respeitava e temia, e que afinal... a levou.
Ai! Tania, preciso parar, e chorar...
Até breve minha nova amiga. Continua a ler o que encontro de minha irmã, que me sentirei menos só nesse culto desesperado, eu sei, mas que se tornou minha razão de viver.
Abraço da Lu
e talvez um beijo
da Alma
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