claudio bento para mim
mostrar detalhes 08:52 (2 horas atrás) Responder
Ei Lu, estou de volta do exílio voluntário no quilombo, doce exílio, estar fora do mundo real, sem rádio e sem notícias da terra civilizada, como diz o xote do Gonzagão. Sem internet, sem celular, sem telefone, só o mato no campo dos olhos, verde vento batendo nas palmas dos coqueiros, só o cheiro de coentro no tempero da galinha a cabidela, a galinha caipira feita com seu próprio sangue, temperada com tempero verde, verde vento levando o cheiro de coquinho, de beiju de goma saindo do forno, de biscoito também de goma, de farinha branquíssima e fina, de palmito no alto da serra. Sem telefone, sem rádio, sem notícia, imerso numa espécie de magia, vivendo um sonho real, uma experiência transcendental, mágica e plena de poesia. O quilombo em festa. Bandeirolas recortadas simetricamente, um presépio ao ar livre. O terço. A novena. A procissão. A virgem do rosário. O Bom Jesus. O mastro. A missa. A viola e a sanfona.O dia de chuva constante. A noite de fogança, de quentão, de música. Música que ainda toca em meu coração. Estou de volta do exílio, doce exílio, doce herança africana.
Mande notícias, quero sempre saber de ti.
Um beijo doce
CLAUDIO BENTO
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Minha resposta:
Querido Bento
Seja benvindo! Que bom que estás de volta! E voltas contando coisas de sonhar e de dar água na boca... Como é belo este nosso Brasil! Pensando bem, é uma benção termos nascido num país tão belo e rico. Tu me envias também notícias da morte de um poeta árabe, e não posso deixar de comparar nossos países, pois aquela desolação dos desertos deles, sem o verde, sem árvores, me mataria na primeira semana. Eu sei que o deserto tem também a sua beleza peculiar, mas... E Minas ! Como é belo o teu estado, meu Bento, com suas montanhas, matas, vales e cachoeiras! E sua culinária inigualável. Tua descrição me fez sentir os cheiros, os perfumes... Ai! Bento... estou em nostalgia, ultimamente. Meu Pampa é propício a esta saudade vaga, difusa. A Pampa... como dizem os peões daqui, que se referem ao nosso campo assim, no feminino, e eu percebo por quê. E como sabes, meu Bento, eu identifico todo este nosso cenário com a minha saudosa irmã, que encarnava, para mim, a alma desta terra, no que ela tem de mais lírico e romântico no melhor sentido.
Por falar nisso, acabas de chegar, mas já viste os últimos sonetos que descobri da Alma, lá no meu blog? Minha inesgotável grande irmã... Veja isto que acabei de descobrir:
(transcrevi para ele no e~mail os dois sonetos últimos que encontrei da Alma e que estão publicados abaixo)
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Sim, meu Bento, é verdade, Os peões daqui entoam vez por outra uma canção gauchesca que Alma compôs e cantava para eles em nossas festas de galpão, nossos fandangos. E outro dia um deles se aproximou de mim montado no seu pingo, e tocando o chapéu disse: " Patroa, le peço perdão, mas a senhora lembra por demasia a finada Alma (que o céu a tenha) que quando andava por aí desde guria, iluminava, era alegria nossa, que parecia a alma mesma destes pagos. Mas, bah! achamos que ela vela por nós lá de cima, junto com o Negrinho de quem ela gostava tanto. Só queria le dizer isto. Tenha um bueno dia, patroa."
Ai! Bento, caí em prantos, assim que ele deu as costas, tu podes imaginar... E me lembrei de que o Negrinho do Pastoreio ficou para sempre associado para ela, desde que morou em São Paulo, ao mineirinho Jonas, o pequeno discípulo dela, que ela tanto amava e que morreu tão cedo também, aí nesses vales e montanhas da querida Minas de vocês.
Mas bah! meu Bento, tenho que parar de chorar...
BENVINDO POETA BENTO DOS PAGOS DE MINAS E DO VALE ENCANTADO!
Beijos da Lu
Há 5 meses
Um comentário:
que maravilha, toda essa troca!
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