quarta-feira, 4 de junho de 2008

Canto da lua pálida (de Alma Welt)

(dos 258 sonetos Pampianos da Alma, vide blog Vida e Obra de Alma Welt)

257

Vai a vaga lua após as chuvas*
No meu pampa como barca solitária,
Nave fantasma, revolta e passionária
Em farrapos sobre mar das minhas uvas*.

Então saio pro jardim, vou ao vinhedo
Ao encontro da nave que me anima
A deixar-me lunar em seu segredo
Para saber o fim que me destina

Pois com meus alvos braços estendidos
Para o alto clamo a indagação
De quais os meus sinais e seus sentidos

E antes que a clareza se me esvaia,
Meus joelhos dobram e vou ao chão
Enquanto a lua pálida desmaia.*

17/01/2007


Nota da editora

Este belíssimo soneto recém encontrado na arca da Alma, tanto se encaixaria nas "Canções da Lua", como nestes Pampianos. Impressiona-me também como ele revela o pressentimento da Alma de seu trágico destino próximo.

*Vai a vaga lua após as chuvas- Percebe-se aqui os ecos do título do filme magnífico de Kenzo Misoguchi, de 1953, "Contos da lua vaga após a chuva", que a Alma viu em DVD.

* Nave fantasma, revolta e passionária/Em farrapos...- Imagem maravilhosa que sugere uma nave farroupilha (em farrapos ) como a de Garibaldi, navegando sobre o mar das uvas do nosso vinhedo


*...a lua pálida desmaia- Alma quer dizer que a lua desfalece para não responder ao ser questionada pela Alma sobre o seu destino iminente.

(Lucia Welt)

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