segunda-feira, 1 de março de 2010

Planos pro Verão (de Alma Welt)

Vem encontrar-me no jardim, ó meu irmão!
A ti meu plano então revelarei,
Bem... irei contigo, já adiantei,
Estou fazendo as malas pro verão.

Em Punta de Leste, pro teu pôquer,
Ostentarei os meus melhores panos,
Serei a sedutora girl de gangster
Para que confundam seus arcanos.

E se, furiosos, vierem-nos atrás,
Fugindo contigo no Aston Martin
Pelas estradas, de mim te orgulharás.

Bem sei que desde já o Diabo ri,
Menos de ti, ó blefador, do que de mim.
"Ele" há muito é o Curinga por aqui...

(sem data)

Planos para el verano (de Alma Welt)
(versión al castellano de Lucia Welt)


Viene a mi, en el jardín, O! mi hermano!
Sin embargo, mis planos revelaré:
Iré contigo, y yo me adelanté,
Malas haciendo ya para el verano

En Punta de Leste, en el póquer ,
Con mis vestidos, que vienen de tus manos,
Yo seré la seductora girl de gangster
Para que ellos confundan sus arcanos.

Y se furiosos vienen en nuestro rastro,
Huyendo contigo en el Aston Martin
Por las carreteras, te veo como un astro.

Bien sé que el Diablo está se riendo
De mí, engañadora que estoy siendo,
Él, a tiempos, por acá, el Comodín.



Nota
Acabo de descobrir na Arca da Alma este gracioso soneto inédito, um dos muitos que Alma escreveu sobre a sua relação com o pôquer de nosso irmão. Alma sofria as contínuas ausências prolongadas de Rodo em suas andanças pelos cassinos do mundo, não só o de Punta de Leste. E fazia de tudo (em vão) para tentar retê-lo...
(Lucia Welt)

Eis aqui outros exemplos do que chamarei "Sonetos do Pôquer". A numeração corresponde ao lugar deles na série Sonetos Pampianos da Alma:

Palavras ao Rôdo (de Alma Welt)

(173)

Rôdo, meu irmão, hoje não jogues,
Algo me constringe o coração,
Só peço que fiques, dialogues
E esqueças esta noite e sua mão.

Sonhei com um Royal Straight Flush
Sobre negra mesa de baralho
E depois um vermelho como um flash
Sobre as cartas, a mesa e o assoalho.

Então, irmãozinho, não me negues
Só um dia do teu jogo vou pedir,
E o de hoje peço que me entregues.

Depois quando o sol se levantar
E todo o nosso Pampa despertar,
Podes, de mim, no teu leito despedir...

12/01/2007

A blefadora (de Alma Welt)
251

Irmão, dá-me a mão, ó meu amigo
Entre este verde e o azul celeste!
Amanhã não estarás comigo
Mas sim na venal Punta de Leste.

À mesa, com as cartas, nem te lembras
Da dama com quem corres estes prados,
E só verás rainhas de outras lendas,
Valetes, reis e coringas abobados.

Embora saibas sempre que te quero
E a mão que tenha seja ruim,
Blefo ao fingir que não te espero.

Bah! Como sou boa jogadora!
Minhas cartas a esconder de mim
Numa aberta caixa de Pandora...

16/01/2007


De pôquer, amor e cinismo (de Alma Welt)
248

Bom jogador mas cínico fantástico,
Meu irmão ganhou uma bolada,
Chegou jogando a pilha com elástico,
Dizendo: "É todo teu, não quero nada!"

"Só retirei um pouco para o jogo
Pois o pôquer bom é o seguinte,
A nova mão, o blefe e o logro,
Pois jogar é um roubo com requinte."

"Todavia se fizeres bom proveito
E levares este barco para adiante
Mesmo com a Poesia tua amante,"

"Eu me sentirei mais liberado
Pra ganhar ou perder com teu respeito
Pois a Alma sorri e sou amado..."


De pôquer e carência (de Alma Welt)
(223)

Caminhar no casarão a passos lentos
Tornou-se hábito embora eu seja jovem,
E posso até ouvir meus pensamentos
E sonetos, que nonatos, me comovem.

Subo de repente ao nosso sótão
Onde já nasceu mais de um poema,
Ali deitando-me no catre do irmão,
E em que tantas vêzes fui meu tema.

E então, recordações sensoriais
Me fazem chorar e adormecer
Agarrada aos travesseiros e meus ais

Para sonhar que estou no abraço forte
Do guri que me deixa sem saber
Que seu pôquer há de ser a minha morte...

17/01/2007


Jogos do Amor (de Alma Welt)
(186)

Meu irmão aprendeu a fazer mágica
Com as cartas, já que é um jogador
E mostrou-me um truque encantador
Não fora a conseqüência quase trágica

Pois fazia aparecer um ás no pôquer
Numa certa seqüência de cartada.
Mas não resistiu, numa noitada,
A fazê-lo em pleno jogo, pra valer.

Nessa noite ele voltou muito ferido
E o tratei condoída e consternada,
Que nunca o vira assim desprotegido,

Pois que, pra quem está acostumada
A vê-lo e tratá-lo como herói,
Descobri-lo vulnerável... ah! como dói!

07/01/2007

Jogos do Fogo (de Alma Welt)

(171)

Noites do meu Pampa, inesquecíveis,
Em bivaque sob estrelas, mateando,
Meu irmão e eu dolentes e sonhando
Conosco como sendo imperecíveis

No sonho de sonhar o impossível
Que era para nós permanecermos
Para sempre no minuto intangível
De ali estar e ao outro pertencermos.

Ah! E que nada jamais superaria
A doce sensação de sermos fogos
Embora o fogo nos quisesse outra via

E para isso logo nos apartaria
Levando-nos, os dois pra outros jogos,
Nas sortes, nos azares, na Poesia...

03/01/2007


O passatempo das horas (de Alma Welt)
(97)

Para escapar às tentações do tédio
Não aceito nenhum jogo de baralho,
Nenhum de tabuleiro ou o borralho
Dos sentimentos e do raciocínio médio.

Em matéria de cartas só respeito
As da cigana com seu pacto astral
Ou aquelas que exigem muito peito
Como as do Rôdo em seu pôquer marginal.

Mas servil, vejo o passar das horas
Como um mordomo que exige as atenções
A elas porque são grandes senhoras

Que preferem o soprano da poesia
Que lhes é apresentada nos salões
Onde o próprio Tempo se enfastia.

05/01/2007

O Mesmerista (de Alma Welt)

Meu irmão convidou um jogador,
Seu colega aventureiro e “mesmerista”,
Que dizia anular qualquer pudor
Até de antiga freira ou normalista.

E que usara esse poder para vencer
No pôquer, o que quase lhe custara
A vida e mais um olho de sua cara
Retirado a canivete, sem tremer.

Mas a pedido dele em reservado,
Deixei caolho-rei dos fascinantes
Exercer o seu dom em pleno prado...

E voltei com o olhar esgazeado
Com passos abertos, claudicantes,
E o ar pleno e perdido das amantes...

(sem data)

The Last Christmas (de Alma Welt)
(54)

Rôdo, traidor e ainda amado
Que me ligas aí dessas europas
Pra me dizer que estás atribulado
E não podes enviar as tuas tropas

Para vir salvar meu coração
Assaltado de temores e tristeza
Por um Natal afinal de solidão
Com a falta que me fazes, com certeza.

Eu olho à minha volta e sinto tanto
Que a vida tenha entornado o caldo
Pr'a Solange, o Alberto e o Geraldo

Perdidos sem o pranto que não pude,
Os piás a mudar, perdendo o encanto,
E eu a despedir da juventude...*

23/12/2006

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