Pela coxilha eu guria andava
E corria atrás das borboletas,
Sentindo como quem também voava,
Tinha a alma livre e sem muletas...
Pois então escrever nem precisava,
Que ainda o coração não confrontava
O dito “mal do mundo”, que eu não via,
Que não fora chegado aquele dia
Em que arrancado de mim o meu amor,
Pelos cabelos, risível cena triste
(só um piá com seu pintinho em riste),
Fomos ambos arrastados pelos pulsos
Levados para a casa como expulsos,
E a suar como quem vai parir em dor.
(sem data)
Notas
Acabo de descobrir na Arca, mais este soneto de tema recorrente na obra da Alma: o trauma do flagrante de nossa Mutti, "a Açoriana" sobre o pequeno casal de irmãos encontrados nuzinhos "brincando' debaixo da macieira preferida deles no nosso pomar. Como podem ver, Alma sempre trata essa ocorrência fundamental de sua vida como uma metáfora da expulsão de Adão e Eva do Paraíso terrestre, que é o exato significado que esse trauma teve para a sua sensibilidade, mais do que para a do nosso irmão, jovem forte, de temperamento cínico e mais leve.
*E a suar como quem vai parir em dor.- Este sugestivo verso alude ao anátema de Deus sobre o Homem (no Gênesis): "Parirás em dor e ganharás o pão com o suor de teu rosto."
(Lucia Welt)
Há 6 anos
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